sábado, 31 de julho de 2010

Depressão I

Vamos cirandar no bosque, enquanto aquela chuva não vem, enquanto as nuvens estão claras, enquanto a solidão está aquém. Vamos cirandar na roda, enquanto o buraco não abre, enquanto o cinza não toma, enquanto o precipício está em latência. Vamos rodear tulipas e abrir mão das rosas, vamos para o que há de mais moderno e desprezar o todo romântico, vamos para os sorrisos enquanto ainda não chegam lágrimas. Assista a um espetáculo fixo, grite ao som das cobaias, fuja inexorávelmente e mergulhe em mar de algas. Algas que te puxam para baixo, em meio a um zonzear dos sentidos, em meio à cirandas dos neurônios e às cantigas mentirosas do amor. Uma gota grande, desleixada e feia caí. Ela caí rumo ao negro, é longitudinal a polegares diversos e à negatividade da reação de pesos múltiplos. Ouça o atrito contra o vento, sinta a melhora da morte em sua face, a tranquilidade de doses de endorfina, a sensação de paladar satisfeito. Agarre-se a qualquer raiz que impeça a queda, prenda-se aos cipós verdes que transpassam suas mãos. Perca as mãos. Perca os sorrisos. Perca o gigante da alma. Perca os olhos que olham o poço sem fim a um ver superior. Perca a grama e o verde em volta. Tente o vermelho e o veja sumir logo adiante. Assista ao receio, ao medo e ao pânico. Veja os pensamentos, quão volúveis; Veja as situações, quão comuns; Veja tudo isso após o mais profundo extâse; Olhe o minotauro abaixo; Olhe quantos caracóis. Olha acima a bola de neve em alta velocidade. Sinta o nó firme na garganta dilacerar cada capilar. Sinta a artéria explodir no sangue. Coloca a felicidade como rumo. Desista logo em seguida. Perca a crença. Recupere. Tenta segurar, tenta escapar, tenta não cair. Tenta por piruetas, por cambalhotas, por sorrisos alheios. Tenta por meio do esporádico ou do paleativo. Tenta forçando, pressione; teste o sem graça, mas teste os palhaços. Teste o drama. Teste o romance. Atire a matéria a um destino fora dos rumos. Não perca os pés. Eles se fazem necessário para a caminhada de passos sob pedregulhos ao fim do poço. Eles explodem e projetam-se para cima. Eles formam pernas inimagináveis. Eles retornam com força de jibóia e veneno de algodão doce. Eles se dizem melhor. Eu os digo recuperáveis, em uma escalada sem fim.

sábado, 24 de julho de 2010

Dopamina I

Agulhinha dos meus olhos, perfurem rápido, rápido, rápido. Perfurem nesse ardor de vida sem fim, nesse rumo perdido aos céus, nesse jogar de lenços bruscos, nesse caracol infinito dos brutos. Jogue em mim a substância mais potente. Calcule esse explodir todo fechado, some ao subir mais alto e ao grito de picos espalhados por um mundo de chão e de agulhas embutidas. Vá para frente e para trás, gire meus olhos frenéticamente. Girem, olhos, girem! Girem tudo que há para girar em volta. Gire a porta de madeira, gire as orelhas do cachorro, gire o ar esquizofrênico, gire a língua até a torção completa. Gire tudo até o mundo agonizar aos seus pés. Coloque as mãos sob as pernas, acalme-se e respire. Não deixe de respirar. Respire e puxe da alma, puxe a alma e a jogue para o alto. Coloque-a para voar junto as borboletas azuis, amarelas, verdes, vermelhas. Jogue-as no maior pano da esperança, na maior das facetas coloridas. Jogue, e voa alminha, Voa com os pássaros, voe com as cores, admita uma sinestesia sincrônica, dance, alminha, dance! Vai, sobe e faz bonito, mostra ao mundo o deprezar da morte e grita bem alto a ironia dos céus. Grita que a vida existe, grita que ela acaba, mas grita a euforia, grita. Grita com toda a euforia, todo o tom do pecado e toda a fé da santidade. Sinta-se no estado da sinceridade perfeita e da mania atribuída, assista de cima um estado abaixo, olhe para cima e inveje um estado acima. Aquele que não existe, aquela mera ansiedade mentirosa da humanidade. E afirme, com a convicção de um amor nos braços e a responsabilidade de uma vida em mãos que acredita na mentira como mentira e lida com tudo em um eterno último momento, último respirar, último sorrir, último chorar, último cochichar, último berrar, último pedir, último falar, último ver. Último ouvir. Ouvir de aplausos a um falso mundo, ouvir de verdades e boatos de que se alcança o auge e esperar uma cordinha tão fina arrebentar. Fina mas resistente. Arrebenta, cordinha, arrebenta. Corte minhas cordas vocais já tão cansadas. Arrebenta, cordinha, arrebenta os últimos neurônios aptos, arrebenta o que me sustenta em cima e me mostra o precipício. Porque se após cada auge vem a decadência, Inutilia Truncat, um dia hei de voltar ao auge. Ao auge chegarei várias vezes, então deixe-me ver o que vem depois pela última vez de um acontecer inédito e constante em cada vida. Sacie minha sede de vida e meu esperar da morte. Jogue-me do alto, gere o silêncio, pague para ver, paga com sangue, paga com lágrimas, paga com palavras, com segurança. Paga com convulsões de tristeza. Paga com a vida e deixe-me viver em busca de recuperá-la constantemente, em cada vão de momento que enxergar a frente. O desinteresse nessa vida é que a faz interessante.

sábado, 26 de junho de 2010

Autismo I

Gira, Gira, Gira, Roda Gigante. O Carrossel dos dedos me persegue numa fúria alucinante. Roda, Roda, Roda, Carrossel. Gira dedinho meu, para frente, para frente, para frente. Dói meu coração, mas dói com dor doída, dói gritando, dói com jeito, dói com classe. Dói olhando para trás, grite pelas sombras em que estou disposto, exploda estourando meus tímpanos. Exploda para que não me deixe ouvir, exploda para que não ouça a sonoridade das vozes ou a penumbra da vida. Porque estar lá já não faz mas sentido. Estar lá nunca fez sentido algum. A parede branca me traduz no negro, e vai, vai, vai, Deus. Tira essa máscara Veneziana da grama, joga na minha cara, aperte-a contra meu ego, chute-a de volta a minha psique, coloque-a em um superego sobrenatural, eleve tudo para o inconsciente e tapa, tapa, tapa, tapa todos os buracos. Tapa cada um com a massa que a humanidade pisou e com os ferros que todo mundo chutou. Tapa com cada pedaço de compreensão, busque uma estrutura saudável, uma súplica gritante, uma guerra vencida, uma batalha perdida, um alicerce mal feito, um relativo mal aceito, uma psique problemática e a problematização estática entre maleáveis vidros. A noção prende-se entre vitrais e mosaicos, entre reflexos mal colocados, entre pensamentos não interpretados, entre jogos em um centro sem fim. Entre retas e retas e flechas e arcos e centros. E entre tudo que não é centro...é bem ali que estou. No meio dos buraquinhos de ouro, no meio do colorido dos outros, no meio do meu confortável preto e branco concêntrico e na minha comunicação sem fim. Comunicação, fala, fala, fala do olhar, fala, fala, Carrossel, fala. Fala tudo isso, fala por cavalos e me faça de boi, fala por éguas e me faça de mula, fala por gente e me afirme animal. Animal sem verdades. Animais somos nós. Animal sou eu. Animal é você. Animal é tudo isso. Animalescas são as atitudes. Elevem-nas para graus disparatos de compreensão. Diga, Diga, olhando em meus olhos venezianos, que o preconceito é solúvel como algodão doce na boca, que as nuvens são incompreensões comestíveis. Porque tudo que eu quero é engolir o mundo. Tudo, tudo, engolir tudo, engolir todo o mundo. E pega, e mastiga, e deglute. E engole, engole toda grama, engole todo sucesso, engole essa mobilização hipócrita. E coloca tudo guela a baixo, e arregaça todos os capilares estomacais, e torne tudo muito sangrento, e deixa o resto em paz. Porque no resto, tomo todas as dores do mundo e fico lá, com minhas palavras egoístas e restritas, com meus afazeres embutidos, com o intrínseco não traduzido, com personalidade refletida. E fico lá, ali. E fico sem palavras. E faço disso rotina. Fala, fala, fala, fala, Carrossel. Fala, fala, fala desse ritual frenético. Fala, fala do silêncio em mudo eterno. Fala.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Our faith is strong

Por um único forte:

Coloque-me acima e é tudo o que eu digo. Coloque-me acima de qualquer terra e junto a qualquer céu. Coloque-me jogado ao maior dos precipícios e a grama mais sangrenta. Junto ao desabafo que vem da alma e a tranquilidade que desce do céu. Do pulsar forte que bate em meu coração mais forte que em minha psique. Os movimentos são leves e brutos. O puxar, o rodopiar, o jogar, o perder e o sumir. A incerteza do decompor, a visita as larvas de alma. Nada me faz negar, nada me faz prosseguir, a esperança na fé, o certeza do amanhã, a incerteza de milhares de mortezinhas pisoteadas nesse algodão cor-de-rosa. E se ao som da vida emergem desafetos, digo que o som da morte emite sonolentes canções de ninar para as formigas dispostas lado a lado em um formigueiro condenado. Há ainda salvação para os diversos mundos de um mesmo dinamicismo, há ainda muita água pra hemorragias do coração. Há ainda muito sadismo para os alheios, há com certeza muita ironia a disposição. Há a força dos brutos, há os abraços de irmãos. Há os socos em faces desfalcadas, há a escadolagia das mãos. Essa a qual trabalha uma teoria do caos em dominós descaracterizados: o abraçar de duas mãos, a concentração replicada e alvoada, a vida sob joelhos, a morte na mão alheia. A morte alheia. Porque não se morre em mãos divinas ou porque toda fé se concentra. E todos os raios partem para o mesmo lugar, e todos os efeitos saem de um mesmo foco. E tudo se faz sentir como paz e tranquilidade, tudo está bem. Tudo se faz valer. E depois da agonia vem o alívio, e depois de um coração em mãos, confiamo-lo a algo maior, a um Deus maior. Livramo-no da responsabilidade de nós mesmos. E de repente, tudo converge aos céus, ao branco. E o branco, meus amigos, refletem todas as cores. As cores todas estão em mim. As cores todas se fazem minhas. As cores todas me deixam viva. A vida toda não me pertence. A circunstância a rouba. A fé a devolve.