sábado, 26 de junho de 2010

Autismo I

Gira, Gira, Gira, Roda Gigante. O Carrossel dos dedos me persegue numa fúria alucinante. Roda, Roda, Roda, Carrossel. Gira dedinho meu, para frente, para frente, para frente. Dói meu coração, mas dói com dor doída, dói gritando, dói com jeito, dói com classe. Dói olhando para trás, grite pelas sombras em que estou disposto, exploda estourando meus tímpanos. Exploda para que não me deixe ouvir, exploda para que não ouça a sonoridade das vozes ou a penumbra da vida. Porque estar lá já não faz mas sentido. Estar lá nunca fez sentido algum. A parede branca me traduz no negro, e vai, vai, vai, Deus. Tira essa máscara Veneziana da grama, joga na minha cara, aperte-a contra meu ego, chute-a de volta a minha psique, coloque-a em um superego sobrenatural, eleve tudo para o inconsciente e tapa, tapa, tapa, tapa todos os buracos. Tapa cada um com a massa que a humanidade pisou e com os ferros que todo mundo chutou. Tapa com cada pedaço de compreensão, busque uma estrutura saudável, uma súplica gritante, uma guerra vencida, uma batalha perdida, um alicerce mal feito, um relativo mal aceito, uma psique problemática e a problematização estática entre maleáveis vidros. A noção prende-se entre vitrais e mosaicos, entre reflexos mal colocados, entre pensamentos não interpretados, entre jogos em um centro sem fim. Entre retas e retas e flechas e arcos e centros. E entre tudo que não é centro...é bem ali que estou. No meio dos buraquinhos de ouro, no meio do colorido dos outros, no meio do meu confortável preto e branco concêntrico e na minha comunicação sem fim. Comunicação, fala, fala, fala do olhar, fala, fala, Carrossel, fala. Fala tudo isso, fala por cavalos e me faça de boi, fala por éguas e me faça de mula, fala por gente e me afirme animal. Animal sem verdades. Animais somos nós. Animal sou eu. Animal é você. Animal é tudo isso. Animalescas são as atitudes. Elevem-nas para graus disparatos de compreensão. Diga, Diga, olhando em meus olhos venezianos, que o preconceito é solúvel como algodão doce na boca, que as nuvens são incompreensões comestíveis. Porque tudo que eu quero é engolir o mundo. Tudo, tudo, engolir tudo, engolir todo o mundo. E pega, e mastiga, e deglute. E engole, engole toda grama, engole todo sucesso, engole essa mobilização hipócrita. E coloca tudo guela a baixo, e arregaça todos os capilares estomacais, e torne tudo muito sangrento, e deixa o resto em paz. Porque no resto, tomo todas as dores do mundo e fico lá, com minhas palavras egoístas e restritas, com meus afazeres embutidos, com o intrínseco não traduzido, com personalidade refletida. E fico lá, ali. E fico sem palavras. E faço disso rotina. Fala, fala, fala, fala, Carrossel. Fala, fala, fala desse ritual frenético. Fala, fala do silêncio em mudo eterno. Fala.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Our faith is strong

Por um único forte:

Coloque-me acima e é tudo o que eu digo. Coloque-me acima de qualquer terra e junto a qualquer céu. Coloque-me jogado ao maior dos precipícios e a grama mais sangrenta. Junto ao desabafo que vem da alma e a tranquilidade que desce do céu. Do pulsar forte que bate em meu coração mais forte que em minha psique. Os movimentos são leves e brutos. O puxar, o rodopiar, o jogar, o perder e o sumir. A incerteza do decompor, a visita as larvas de alma. Nada me faz negar, nada me faz prosseguir, a esperança na fé, o certeza do amanhã, a incerteza de milhares de mortezinhas pisoteadas nesse algodão cor-de-rosa. E se ao som da vida emergem desafetos, digo que o som da morte emite sonolentes canções de ninar para as formigas dispostas lado a lado em um formigueiro condenado. Há ainda salvação para os diversos mundos de um mesmo dinamicismo, há ainda muita água pra hemorragias do coração. Há ainda muito sadismo para os alheios, há com certeza muita ironia a disposição. Há a força dos brutos, há os abraços de irmãos. Há os socos em faces desfalcadas, há a escadolagia das mãos. Essa a qual trabalha uma teoria do caos em dominós descaracterizados: o abraçar de duas mãos, a concentração replicada e alvoada, a vida sob joelhos, a morte na mão alheia. A morte alheia. Porque não se morre em mãos divinas ou porque toda fé se concentra. E todos os raios partem para o mesmo lugar, e todos os efeitos saem de um mesmo foco. E tudo se faz sentir como paz e tranquilidade, tudo está bem. Tudo se faz valer. E depois da agonia vem o alívio, e depois de um coração em mãos, confiamo-lo a algo maior, a um Deus maior. Livramo-no da responsabilidade de nós mesmos. E de repente, tudo converge aos céus, ao branco. E o branco, meus amigos, refletem todas as cores. As cores todas estão em mim. As cores todas se fazem minhas. As cores todas me deixam viva. A vida toda não me pertence. A circunstância a rouba. A fé a devolve.