quinta-feira, 7 de abril de 2011

Dorzinha

Tinha aquela dose de pressentimento, percebe? Aquela coisa do fundo da alma que cotuca. E cotuca...Aquela consonância de coisas não ditas, que já deixaram de magoar há tempos e que ofuscam tanto o sentimento. Uma coisa infantilizada, até, um soar profundo e preso, enclausurado. Sabe? Sabe do medo de perder o sentimento? Conhece aquele medo de deixar de ser sentimental? E partir dessa para onde, para a onda, para a vida. E, principalmente, para o que não se conhece. Entende quando as lágrimas alheias vão e voltam dentro da gente, quando o fluxo carrega e descarrega e quando se pára para pensar? Que de tantos fatos escreveria três vezes, mas que de tão relacionados se escreve uma. Nota. Nota e percebe e sente que a prole do que vem depois acabou, e então o que virá? A prole acabou. Acabou a renca de dor, a raiz de dor. E porque a raiz da dor se doa para a de felicidade, e raios de felicidade se voltam para a dor? Falo da dorzinha de aurora, a dorzinha escondida, ê dorzinha complicada e triste e viva e dolorida. E duvidosa. Aprende-se aos poucos que cada dor é dor, e que o outro de fato a sente. Ainda que seja a dorzinha do fundo do espírito. E vê se compreende, que até dor de amor é dorzinha. Que se perde quando se esgota, mas, sobretudo, se faz perder. Que a decisão é dura feito pedra e diamante incrustado, e que incrusta na pele e se faz valer. Ou não. Pensando bem, olhando profundamente ao dentro. Observe e vide e veja. E ouça o barulhar do fora, os barulhos das madrugadas, tão bonitos para serem ditos morcegos e grilos e cigarras. Mais bonito seriam morceguinhos, grilinhos e cigarrinhas. A noite se impõe negra, mas é clara. Não tão clara como a dorzinha verde que assola o ladinho, o cantinho, o coração. Coraçãozão, de papel, de viés, de júri. Tema todas as responsabilidades, entretanto, saiba que não são todas suas. Afinal, o mundo todo, por vezes tolo, não é responsabilidade de ninguém, mas é responsabilidade de todos. Perder um pouco da responsabilidade sobre si, e deixar de pensar. O mundo exige dos quais se doam em sentimento e pede compaixão, e quando se dá compaixão e sentimento pede toda a seriedade. As pessoas pedem seriedade. E a amnésia assola toda a terra. Uma amnésia sentimental generalizada assola a terra. Há uma epidemia que quebrou todos os laços e promessas de vida. Dorzinha verde, apaziguar-se-irá. Desejo a você todos os votos de paz. E vá. Amasse, faça doer, mas vá. E quando for, deixa só a noite no fundo. Escura, mas clara. Para iluminar todas as vidas sob sua proteção.

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